Canetas
Sugestão de Leitura: Carlos Drummond
Olá leitores!! Tudo bem com vocês? Só para esclarecer: minhas aulas voltaram... Então vocês já podem imaginar como estou atolada e sem tempo, não é?? Haha
Bom, o post de hoje é uma sugestão muito legal! Particularmente, não sou muito de ler poesias e poemas. Mas sei que existem muitas pessoas que gostam! Então hoje eu resolvi dar uma sugestão de leitura! Meu avô também é um maníaco literário, assim como eu e vocês. E ele também tem uma biblioteca de tamanho considerável. E nesta biblioteca, descobri muitos livros bons e raros. Entre eles, um dos melhores livros de poesias que já li, A Rosa do Povo. Então resolvi compartilhar com vocês!
A Rosa do Povo - Carlos Drummond de Andrade
A Rosa do Povo é um livro de poesias brasileiro, escrito por Carlos Drummond de Andrade entre 1943 e 1945. É a maior obra do autor sendo composta por 55 poemas. A obra é considerada como uma tradução de uma época sombria (o final Segunda Guerra Mundial e, no Brasil, nessa mesma época, um grande descontentamento da classe média e das elites intelectuais com a ditadura de Vargas) que reflete um tempo, não só individual, mas coletivo no país e no mundo onde o autor capta o sentimento, as dores, e a agonia de seu tempo. No título A Rosa do Povo, a rosa representa a poesia (expressão), das pessoas daquela época.
Neste livro, o poeta encaixa diversas temáticas, como a reflexão existencial, o povo, o cotidiano e até o amor, entre outras.
O que mais gostei (e gosto) nos poemas é a incrível capacidade que o autor tem de contextualizar os acontecimentos históricos com sentimentos pessoais, e vice-versa. As temáticas abordadas são mais profundas do que simples poesias com boas rimas, mas refletem uma verdade assombrosa que o mundo vivia na época. O modo mais intelectual de protestar.
Se você deseja ler os poemas, vai uma dica: leia e releia, contextualize o texto e procure entender o que o autor quis dizer com aquelas palavras. Cada verso e cada estrofe tem um significado profundo, que merece ser observado, entendido, mastigado e deglutido.
A Flor e a Náusea
Preso à minha classe e a algumas roupas,
vou de branco pela rua cinzenta.
Melancolias, mercadorias espreitam-me.
Devo seguir até o enjôo?
Posso, sem armas, revoltar-me?
Olhos sujos no relógio da torre:
Não, o tempo não chegou de completa justiça.
O tempo é ainda de fezes, maus poemas, alucinações e espera.
O tempo pobre, o poeta pobre
fundem-se no mesmo impasse.
Em vão me tento explicar, os muros são surdos.
Sob a pele das palavras há cifras e códigos.
O sol consola os doentes e não os renova.
As coisas. Que tristes são as coisas, consideradas sem ênfase.
Vomitar esse tédio sobre a cidade.
Quarenta anos e nenhum problema
resolvido, sequer colocado.
Nenhuma carta escrita nem recebida.
Todos os homens voltam para casa.
Estão menos livres mas levam jornais
e soletram o mundo, sabendo que o perdem.
Crimes da terra, como perdoá-los?
Tomei parte em muitos, outros escondi.
Alguns achei belos, foram publicados.
Crimes suaves, que ajudam a viver.
Ração diária de erro, distribuída em casa.
Os ferozes padeiros do mal.
Os ferozes leiteiros do mal.
Pôr fogo em tudo, inclusive em mim.
Ao menino de 1918 chamavam anarquista.
Porém meu ódio é o melhor de mim.
Com ele me salvo
e dou a poucos uma esperança mínima.
Uma flor nasceu na rua!
Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego.
Uma flor ainda desbotada
ilude a polícia, rompe o asfalto.
Façam completo silêncio, paralisem os negócios,
garanto que uma flor nasceu.
Sua cor não se percebe.
Suas pétalas não se abrem.
Seu nome não está nos livros.
É feia. Mas é realmente uma flor.
Sento-me no chão da capital do país às cinco horas da tarde
e lentamente passo a mão nessa forma insegura.
Do lado das montanhas, nuvens maciças avolumam-se.
Pequenos pontos brancos movem-se no mar, galinhas em pânico.
É feia. Mas é uma flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio.
E então, gostaram?? Um beijo, e até a próxima!!!
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