Atrás da Cortina de Ferro
Canetas

Atrás da Cortina de Ferro


Expressões têm vida curta. Quando não utilizadas, vão sendo esquecidas até morrerem. Cortina de Ferro é uma delas. Com a queda do Muro de Berlim, a expressão foi caindo em desuso e hoje remete vagamente a memória a velhos filmes produzidos durante a Guerra Fria.


Mas mesmo nesses peculiares países, escrever era preciso e num tempo onde as canetas esferográficas ainda eram uma inusitada novidade, também foi necessário fabricar canetas tinteiro. Sempre fui muito curioso em relação às coisas da extinta União Soviética e de seus países aliados. Talvez por isso, tenha procurado saber mais a respeito das canetas tinteiro produzidas por eles e tenha hoje quatro exemplares em minha coleção. Vou falar um pouco sobre eles...


União das Repúblicas Socialistas Soviéticas: Seu mais famoso fabricante de canetas tinteiro, foi a Soyuz (???? em russo). A fábrica ficava em Leningrado (hoje São Petersburgo) e tornou-se notória por fabricar canetas inspiradas nas Parker 51 e 61. A inspiração porém, era mais no visual do que no funcionamento. Os projetistas soviéticos sempre foram hábeis em aproveitar boas idéias adaptando-as e não raramente melhorando. O modelo mais famoso, é a 1950, inspirada na Parker 51 Vacumatic, mas com um sistema de abastecimento totalmente diferente e criativo. O sistema utiliza um reservatório de borracha sanfonada acionado por botão do lado de fora da caneta.


Uma Soyuz 1950

 


O sistema de abastecimento, na primeira foto em posição de abastecimento normal, com a mini-tampa posterior aberta. Na foto seguinte, o corpo desmontado expondo o reservatório de borracha sanfonada.


O clipe da tampa da 1950, foi desenhado num motivo "espacial", ou seja, tinha o formato de um foguete, tema muito em voga na década de 50 e do qual os soviéticos se orgulhavam muito. Vale notar, que a palavra Soyuz, significa UNIÃO em russo. Apesar do tema espacial, a cosmonave Soyuz, só surgiu no final da década de 60, logo a caneta Soyuz foi pioneira.


Nos anos 60, a Soyuz lançou o segundo modelo, inspirado na Parker 61. Novamente, uma inspiração apenas visual, pois o sistema de abastecimento tornou-se praticamente um padrão em todas as canetas tinteiro soviéticas até o fim da indústria. Tratava-se de uma bomba de êmbolo acionado por um manípulo giratório. Em outras palavras, embutida dentro do corpo, uma bomba semelhante às utilizadas nas canetas do tipo "piston filler".



Uma Soyuz 1960. Abaixo, detalhe do sistema de abastecimento

As Soyuz, até a década de 70, foram canetas fabricadas com excelente qualidade de acabamento e penas muito macias. Do final da década de 70 em diante, vivenciaram o fenômeno do sucateamento da indústria soviética. Em meados da década de 80, as canetas Soyuz não podiam mais ser levadas a sério...


Bulgária: País nem sempre muito lembrado (talvez agora, seja mais no Brasil, pela ascendência da presidenta Dilma Roussef...), a Bulgária tem a particularidade de falar um idioma eslavo semelhante ao Russo e também ser um dos países que emprega o alfabeto Cirílico, o mesmo utilizado pelo idioma Russo. Na Bulgária, era fabricada a caneta ?????? (transliterando: PÔBIÊDA = VITÓRIA). Fortemente inspirada na caneta alemã Pelikan modelo 150, a ?????? era também vendida com o nome ??????? que transliterado para o alfabeto latino fica... PELIKAN!!! Nas embalagens da ???????, havia até mesmo o desenho de um pelicano... Esse "modelo", criou um mito de que a Pelikan teria mantido uma fábrica na Bulgária. Tal fato porém, nunca ocorreu.


Uma ?????? 63

??????, é uma "piston filler" autêntica. Desrosqueando a extremidade posterior do corpo, um êmbolo desce e aparece pela janela transparente próxima à rosca da tampa no corpo. A pena é então mergulhada no tinteiro. Rosqueando a extremidade posterior, o êmbolo "sobe" succionando a tinta para dentro do corpo-reservatório. Em outras palavras, o mesmo sistema de canetas sofisticadas como algumas Pelikan e Montblanc. A semelhança entretanto, morre aí. A maciez de acionamento do êmbolo e a alta qualidade das penas que se vê nas Pelikan, não existe nas ??????. O acionamento da rosca do êmbolo é duro e a pena tem uma qualidade de escrita medíocre. Nunca tiveram um período de glória como as Soyuz...


Czechoslovakia: Automóveis, caminhões, motocicletas, armas, equipamento fotográfico e canetas da Czechoslovakia, sempre foram notórios pela excelente qualidade de fabricação. Os tchecos, sempre primaram por projetos exclusivos e criativos. Nunca seguiram tecnologia estrangeira e sempre provaram que seus produtos eram de alta qualidade. Nesse panorama, surgiram canetas extraordinárias como as Barclay e as Centropen. A fábrica Barclay, chegou a ser distinguida no início do século passado, como fabricante das melhores penas européias. A Barclay não sobreviveu à Segunda Guerra Mundial, mas a Centropen existe até hoje, na República Tcheca.


Atualmente, a Centropen fabrica dúzias de modelos de canetas esferográficas e lapiseiras. Eles ainda têm três modelos de canetas tinteiro para uso escolar.


Um dos últimos modelos Centropen anteriores à divisão do país, é a 3770, uma caneta que fechada lembra o design da Parker 45, mas aberta revela um projeto totalmente diferente, com uma pena de formato totalmente original e sistema de abastecimento por bomba de êmbolo de acionamento giratório (quase idêntico à Soyuz 1960). Embora utilize materiais bastante simples, a Centropen 3770 é uma caneta ultra resistente e sua pena é de uma maciez de escrita exemplar.


Uma Centropen 3770


Outros países da "cortina de ferro", como a Alemanha Oriental e a Hungria, também fabricaram suas canetas tinteiro. Futuramente, voltarei ao assunto...




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