Materiais - Polímeros (Primeira Geração)
Canetas

Materiais - Polímeros (Primeira Geração)


Existe muita coisa escrita sobre caneta tinteiro. Curiosamente, um dos pontos onde mais bobagem é dita, é sobre os POLÍMEROS, materiais essenciais na maioria das canetas. É comum em fóruns e propagandas, quando se quer super valorizar uma caneta, dizer que ela é feita de RESINA. Quando em contrapartida pretende-se desvalorizar uma caneta, se diz que é feita de plástico. Em geral, os adjetivos "vagabundo" ou "barato", são anexados à palavra plástico...

Não sou favorável a mistificações e meias-verdades. Primeiramente, é necessário entender a palavra PLÁSTICO. Em Física, quando se estuda deformações, existem dois comportamentos de um material. Se o material após ser submetido a um esforço RETORNA à sua forma original, dizemos que o material é ELÁSTICO. Se em contrapartida, o material após ser submetido a um esforço sofre deformação e NÃO retorna à forma original, diz-se que o material é PLÁSTICO.

Os materiais popularmente chamados de plásticos, podem ter origem natural ou sintética. A principal característica desses materiais, é serem formados por extensas cadeias moleculares. Essa extensão, confere a eles interessantes características de resistência. Tais cadeias, são compostas de um elemento básico denominado MONÔMERO que se repete indefinidamente formando as cadeias que são denominadas POLÍMEROS.

Chamar um polímero de "resina" quando se pretende dar importância ao fato, é uma besteira descomunal. TODO polímero, simples ou sofisticado, caro ou barato, é constituído de uma RESINA (que contém os monômeros isolados) que passa por um processo denominado POLIMERIZAÇÃO, onde através da adição de um catalisador ou ainda de um processo térmico, tem seus monômeros "acoplados" formando as longas cadeias.

Ebonite

Antes de surgirem as canetas tinteiro, caneta era uma mera haste onde se encaixava uma pena descartável numa das extremidades. Essa haste, na imensa maioria das vezes, era de madeira. Algumas mais luxuosas, poderiam ser feitas em outros materiais mais nobres, como marfim, ébano, metais preciosos etc.

Mas as canetas tinteiro, precisavam ser feitas de um material que além de durável, fosse impermeável, pois o corpo da caneta, serviria como reservatório de tinta. Estávamos nesse momento, na segunda metade do século XIX, onde o estadunidense Charles Goodyear havia acabado de descobrir um processo pelo qual a seiva coagulada da seringueira transformava-se em borracha estável, a VULCANIZAÇÃO. A borracha era derretida e misturada com enxofre. Após esfriar, tínhamos borracha vulcanizada, que se tornava estável e não reativa com o oxigênio do ar. Durante as experiências, um dia o Sr. Goodyear errou na dose de enxofre colocando excesso do componente. Ao invés de obter borracha elástica, obteve um material escuro e duríssimo. Esse material após polido, adquiria um belo brilho negro acetinado, semelhante à madeira ébano (ebony em inglês). Estava criado o primeiro polímero rígido, que foi denominado EBONITE.

As primeiras canetas tinteiro, eram feitas de ebonite. Além do belo brilho, ebonite tem uma resistência química enorme, algo que foi muito bem vindo, pois as tintas de então, eram extremamente corrosivas e o corpo das canetas era o reservatório propriamente dito. Adicionalmente, ebonite é facilmente moldável por usinagem, ou seja, a partir de tubos ou tarugos (barras cilíndricas) sólidos, é possível fazer canetas por TORNEARIA.


Sri Pendurangan Ranga torneando as canetas Ranga em ebonite

As primeiras canetas portanto, eram invariavelmente pretas ou no máximo em algum tom de marrom muito escuro. A primeira tentativa bem sucedida de colorizar o ebonite, foi obtida pela Parker, que conseguiu produzir ebonite numa cor avermelhada. As canetas Parker Duofold fabricadas em ebonite vermelho, ficaram conhecidas como Parker Big Red, sendo cobiçadíssimas pelos colecionadores até hoje.


Uma Parker Duofold "Big Red" da década de 20 em ebonite verrmelho

Outras tonalidades foram obtidas e até mesmo padrões mesclados, mas um novo material surgiu, destronando o ebonite.

Até hoje entretanto, existem fabricantes que produzem belas (e caras) canetas em ebonite.


Uma Cleo Skribent (Alemanha, ex-oriental) moderna em ebonite (foto: cleo-skribent.de)



Celulóide

Nome comercial dado para o Acetato de Nitrocelulose, que era obtido a partir da CÂNFORA. O material já era conhecido como matéria prima para filmes fotográficos e cinematográficos. No quesito resistência química, perde feio do ebonite. Algumas tintas, simplesmente eram proibidas para canetas de celulóide. Perde ainda na resistência térmica (celulóide é altamente inflamável, quem assistiu ao filme "Cinema Paradiso" sabe...). Qual a vantagem então sobre o ebonite??? BELEZA!!! Canetas de celulóide, podem ter muito mais cores e o celulóide após o polimento, tem um brilho belíssimo. Havia ainda o celulóide laminado, que consistia de um material obtido por várias camadas coladas de celulóide de cores diferentes, com interessantes efeitos visuais.

Uma Parker Vacumatic (década de 30) em celulóide laminado


Celulóide, reinou absoluto até a Segunda Guerra Mundial. A partir daí, novos polímeros assumiram a ponta dessa corrida.


Uma moderna Pelikan Souverän M800 em celulóide translúcido

Mas da mesma forma que ocorre com ebonite, celulóide AINDA tem aplicação e algumas canetas bastante sofisticadas (como a série Souverän da Pelikan), ainda utilizam celulóide em sua fabricação.



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